Houve um tempo em que ser professor do Ensino Superior era uma marca absoluta de status e a garantia de um salário digno dos anos investidos em uma árdua formação.
Nos últimos anos a história mudou. A disseminação de cursos superiores particulares e o descompromisso das empresas de educação com a qualidade de ensino vêm levando esses profissionais a quedas consideráveis de seu poder aquisitivo. A demissão de mestres e doutores em nome de uma simples contratação da “mão de obra” mais barata de professores não titulados, o rebaixamento salarial e a perda de direitos são evidências gritantes desse rebaixamento.
Sem falar na precarização das condições de trabalho, com salas lotadas e a perda definitiva da liberdade de cátedra devido à expansão de redes que trabalham com material semelhante ao apostilado e com provas e atividades predefinidas.
Entretanto ainda há o status. Com exceção da maioria dos empresários da educação – que enxergam o mundo pela miopia das cifras –, a sociedade, em geral, ainda estima e respeita os “professores de faculdade”. Por enquanto.
Mas, mesmo que nada disso seja novidade, pouquíssimo tem sido feito a respeito. A imprensa noticia, os professores se lamentam e muitos apenas se limitam a lembrar dos velhos tempos.
Os sindicatos então acenam com uma velha estratégia: a greve! E imediatamente muitos desses professores, talvez a maioria, arrepiam-se de susto, muitos têm náuseas, outros ainda destilam o sarcasmo que seu status lhe permite. Greve?! Coisa de comunista, de subversivo, de peão de fábrica! Mas será que o punho levantado não combina em nada com o anel de doutor?
Eis um nó górdio, difícil de resolver: enquanto classe trabalhadora, tais professores estão sendo alijados de seus direitos, humilhados e descartados sem a menor cerimônia. Mas enquanto classe de status eles rejeitam a forma de luta mais tradicional e eficaz da organização classista: a paralisação. Provavelmente isso se deve a um ótimo trabalho ideológico que, desde a ditadura militar até os dias de hoje, desenvolveu-se sem cessar: a demonização dos movimentos sociais e a depreciação de qualquer forma de luta.
Ocupar as ruas, reunir-se com seus pares para exigir respeito e mostrar a toda a sociedade a precariedade de sua situação, cruzar os braços para evidenciar nas mãos de quem está o ato criativo, nada disso vai sair de moda enquanto a busca indiscriminada e predatória por lucro continuar vitimizando pessoas, sonhos e classes. Além disso, a mobilização e os protestos são atividades perfeitamente coerentes com os estados democráticos e muito comuns nos países desenvolvidos.
Mas se, mesmo com isso, ainda houver dúvidas ou receios com relação à eficácia e validade das greves, então, que a classe intelectual procure reinventá-la, até porque, até hoje, quando a matéria é lutar por direitos, os “peões” de fábrica sabem dar verdadeiras aulas.
Jorge Gonçalves de Oliveira Jr., professor e diretor do SINPRO ABC
Houve um tempo em que ser professor do Ensino Superior era uma marca absoluta de status e a garantia de um salário digno dos anos investidos em uma árdua formação.

Nos últimos anos a história mudou. A disseminação de cursos superiores particulares e o descompromisso das empresas de educação com a qualidade de ensino vêm levando esses profissionais a quedas consideráveis de seu poder aquisitivo. A demissão de mestres e doutores em nome de uma simples contratação da “mão de obra” mais barata de professores não titulados, o rebaixamento salarial e a perda de direitos são evidências gritantes desse rebaixamento.

Sem falar na precarização das condições de trabalho, com salas lotadas e a perda definitiva da liberdade de cátedra devido à expansão de redes que trabalham com material semelhante ao apostilado e com provas e atividades predefinidas.

Entretanto ainda há o status. Com exceção da maioria dos empresários da educação – que enxergam o mundo pela miopia das cifras –, a sociedade, em geral, ainda estima e respeita os “professores de faculdade”. Por enquanto.

Mas, mesmo que nada disso seja novidade, pouquíssimo tem sido feito a respeito. A imprensa noticia, os professores se lamentam e muitos apenas se limitam a lembrar dos velhos tempos.

Os sindicatos então acenam com uma velha estratégia: a greve! E imediatamente muitos desses professores, talvez a maioria, arrepiam-se de susto, muitos têm náuseas, outros ainda destilam o sarcasmo que seu status lhe permite. Greve?! Coisa de comunista, de subversivo, de peão de fábrica!

Mas será que o punho levantado não combina em nada com o anel de doutor?

Eis um nó górdio, difícil de resolver: enquanto classe trabalhadora, tais professores estão sendo alijados de seus direitos, humilhados e descartados sem a menor cerimônia. Mas enquanto classe de status eles rejeitam a forma de luta mais tradicional e eficaz da organização classista: a paralisação. Provavelmente isso se deve a um ótimo trabalho ideológico que, desde a ditadura militar até os dias de hoje, desenvolveu-se sem cessar: a demonização dos movimentos sociais e a depreciação de qualquer forma de luta.

Ocupar as ruas, reunir-se com seus pares para exigir respeito e mostrar a toda a sociedade a precariedade de sua situação, cruzar os braços para evidenciar nas mãos de quem está o ato criativo, nada disso vai sair de moda enquanto a busca indiscriminada e predatória por lucro continuar vitimizando pessoas, sonhos e classes. Além disso, a mobilização e os protestos são atividades perfeitamente coerentes com os estados democráticos e muito comuns nos países desenvolvidos.

Mas se, mesmo com isso, ainda houver dúvidas ou receios com relação à eficácia e validade das greves, então, que a classe intelectual procure reinventá-la, até porque, até hoje, quando a matéria é lutar por direitos, os “peões” de fábrica sabem dar verdadeiras aulas. 

Jorge Gonçalves de Oliveira Jr.,
professor e diretor do SINPRO ABC

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