SINPRO ABC condena atuação da justiça no caso do reitor da UFSC

O suicídio do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Luiz Carlos Cancellier, afastado por decisão judicial, tem provocado revolta e reflexão no meio acadêmico sobre a atuação da justiça no País.

Endossando o coro dos docentes indignados, o Sindicato dos Professores do ABC, condena a atitude arbitrária do Judiciário, de modo especial e particular no caso do reitor Cancellier, caracterizando abuso de autoridade e atitude parcial da polícia federal, já que o professor foi preso sem provas e sem a possibilidade de defesa, o que para ele teria contribuído no agravo do quadro psicológico do reitor, que culminou com seu suicídio.

O SINPRO ABC pede rigor na apuração dos fatos, bem como a responsabilização civil, criminal e administrativa das autoridades policiais e judiciárias envolvidas no caso, manifestando profundo pesar pelo falecimento do professor Luiz Carlos Cancellier e solidariza-se com seus familiares, parentes e amigos.

Cancellier suicidou-se na manhã do dia 02 de outubro ao se jogar de um vão do piso L4 no Shopping Beiramar, em Florianópolis. Tudo indica que o suicídio foi motivado pelo abuso de autoridade do Ministério Público e da Polícia Federal, que o prendeu e o afastou da universidade em uma investigação sobre desvio de recursos sem ter apresentado nenhuma prova e sem dar a ele a chance da plena defesa.

De acordo com informações da imprensa local, um bilhete foi encontrado junto ao corpo do professor, no qual ele teria escrito: “Minha morte foi decretada no dia de minha prisão“.  A delegada da Polícia Federal Érika Mialik Marena foi quem ordenou a prisão do reitor Luis Carlos Cancellier.

Transferida do Paraná para Santa Catarina, a delegada levou os métodos de Curitiba para o novo estado e o reitor foi preso sem nem ter sido antes convocado a prestar depoimentos. Exposto à execração pública pela mídia corporativa sensacionalista, o reitor não resistiu à pressão.

Numa carta escrita pelo reitor, as acusações referem-se à gestão anterior à sua, que teve início em maio de 2016, o que não impediu que ele fosse preso e acusado de obstrução da investigação. Para as pessoas próximas a Cancellier, ele foi vítima do Estado de exceção que a Justiça hoje impõe ao País.

Confira a carta escrita pelo reitor da UFSC

 A humilhação e o vexame a que fomos submetidos — eu e outros colegas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) — há uma semana não tem precedentes na história da instituição. No mesmo período em que fomos presos, levados ao complexo penitenciário, despidos de nossas vestes e encarcerados, paradoxalmente a universidade que comando desde maio de 2016 foi reconhecida como a sexta melhor instituição federal de ensino superior brasileira; avaliada com vários cursos de excelência em pós-graduação pela Capes e homenageada pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Nos últimos dias tivemos nossas vidas devassadas e nossa honra associada a uma “quadrilha”, acusada de desviar R$ 80 milhões. E impedidos, mesmo após libertados, de entrar na universidade.

Quando assumimos, em maio de 2016, para mandato de quatro anos, uma de nossas mensagens mais marcantes sempre foi a da harmonia, do diálogo, do reconhecimento das diferenças. Dizíamos a quem quisesse ouvir que, “na UFSC, tem diversidade!”. A primeira reação, portanto, ao ser conduzido de minha casa para a Polícia Federal, acusado de obstrução de uma investigação, foi de surpresa.

Ao longo de minha trajetória como estudante de Direito (graduação, mestrado e doutorado), depois docente, chefe do departamento, diretor do Centro de Ciências Jurídicas e, afortunadamente, reitor, sempre exerci minhas atividades tendo como princípio a mediação e a resolução de conflitos com respeito ao outro, levando a empatia ao limite extremo da compreensão e da tolerância. Portanto, ser conduzido nas condições em que ocorreu a prisão deixou-me ainda perplexo e amedrontado.

Para além das incontáveis manifestações de apoio, de amigos e de desconhecidos, e da união indissolúvel de uma equipe absolutamente solidária, conforta-me saber que a fragilidade das acusações que sobre mim pesam não subsiste à mínima capacidade de enxergar o que está por trás do equivocado processo que nos levou ao cárcere. Uma investigação interna que não nos ouviu; um processo baseado em depoimentos que não permitiram o contraditório e a ampla defesa; informações seletivas repassadas à PF; sonegação de informações fundamentais ao pleno entendimento do que se passava; e a atribuição, a uma gestão que recém completou um ano, de denúncias relativas a período anterior.

Não adotamos qualquer atitude para abafar ou obstruir a apuração da denúncia. Agimos, isso sim, como gestores responsáveis, sempre acompanhados pela Procuradoria da UFSC. Mantivemos, com frequência, contatos com representantes da Controladoria-Geral da União e do Tribunal de Contas da União. Estávamos no caminho certo, com orientação jurídica e administrativa. O reitor não toma nenhuma decisão de maneira isolada. Tudo é colegiado, ou seja, tem a participação de outros organismos. E reitero: a universidade sempre teve e vai continuar tendo todo interesse em esclarecer a questão.

De todo este episódio que ganhou repercussão nacional, a principal lição é que devemos ter mais orgulho ainda da UFSC. Ela é responsável por quase 100% do aprimoramento da indústria, dos serviços e do desenvolvimento do estado, em todas as regiões. Faz pesquisa de ponta, ensino de qualidade e extensão comprometida com a sociedade. É, tenho certeza, muito mais forte do qualquer outro acontecimento".

Luiz Carlos Cancellier, reitor da UFSC


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