O culto exagerado ao corpo traz fortes prejuízos à autoestima da mulher

Para mudar a imagem feminina na mídia brasileira será preciso democratizar os veículos de comunicação. Esta é a opinião da psicóloga e coordenadora do Observatório da Mulher, Rachel Moreno. Segundo ela, é preciso transformar a sociedade no conceito da imagem feminina que nos é apresentada pelos veículos de comunicação.

Rachel Moreno, que também é autora dos livros A Beleza do Impossível e A Imagem da Mulher na Mídia, ressalta que a atual forma de representação da mulher, em um cenário de concentração da mídia, é "absolutamente estreita", e que falta "diversidade e pluralidade".

Segundo ela, "a mulher é sempre representada como branca, jovem, magra, cabelos lisos etc quando, na verdade, a mulher brasileira é branca, negra, jovem, velha, magra, gorda, de uma diversidade que, simplesmente, não se veem representadas."

Moreno afirma que a perpetuação de tais estereótipos estabelecem padrões de beleza difíceis de serem alcançados, que atende aos interesses da indústria, do comércio e das cirurgias plásticas, com irremediável prejuízo à autoestima da mulher.

A psicóloga ressalta que, mesmo veículos de imprensa “sérios", quando buscam fugir da sexualidade feminina, nunca as representam como especialistas, formadora de opinião e conhecimentos relevantes, mas apenas como "vítimas ou testemunhas".

Para modificar tal imagem, Rachel Moreno cobra compromisso, da mídia, que é "educadora informal poderosíssima", mas que colabora na banalização e naturalização da violência contra a mulher.

Moreno defende ainda  a reforma política com participação da sociedade civil para aumentar a representação da mulher no parlamento, com o fim do financiamento privado de campanha, pois, segundo ela, "as mulheres acabam sendo mais pobres e resistem mais a recorrer aos recursos das empresas".

Mudança de hábito

Para além das reformas, na mídia e na política, a coordenadora do Observatório da Mulher espera uma mudança de costumes: "As mulheres não participam da política porque são sobrecarregadas, têm dupla jornada de trabalho. Está na hora de dividir o trabalho doméstico entre homens e mulheres. Mostrar nas novelas o homem chegando em casa mais cedo e preparando o jantar e, quando a mulher chega, a mesa está posta para naturalizar uma nova divisão das tarefas domésticas. Além disso, desnaturalizar a violência de gênero, discutir seriamente a sexualidade e cuidados necessários, enfim, exercer com responsabilidade social a sua função de educadora informal e de concessão. E repensar a distribuição dos recursos governamentais para a mídia".

A imagem da mulher na mídia  - (livro)

A obra faz uma comparação entre a legislação sobre mídia em 12 países que têm determinação sobre o tratamento da imagem da mulher. Rachel Moreno faz análises da presença feminina, além de avaliar a reprodução de estereótipos e preconceitos e os sutis modelos de beleza inalcançáveis, aspectos comuns vistos na mídia.


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