Diante da proposta de fechamento de escolas, movimentos da cidade e do campo ampliam luta contra projeto do governo Alckmin

Escrito por: Flaviana Serafim e Vanessa Ramos - CUT São Paulo

Foto: Dino Santos

Os movimentos sociais e sindical se uniram aos professores, estudantes e familiares numa grande marcha que reuniu 90 mil pessoas nas ruas da capital nesta quinta (29), acirrando a luta contra a chamada reorganização escolar e o fechamento de centenas de escolas em São Paulo.

Bancários, metalúrgicos, químicos, trabalhadores do serviço municipal e estadual, movimentos do campo e da cidade foram unânimes: a educação é uma preocupação de todos e os protestos continuarão enquanto o governo Geraldo Alckmin não recuar.

A próxima mobilização está agendada para 10 de novembro, às 12h, com assembleia dos professores, no Estádio do Morumbi, e ato público em frente ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo estadual.

"O que o governador tem feito em São Paulo é um ataque à escola pública e isso significa atacar a escola dos filhos e filhas dos trabalhadores. Nossa Central e sindicatos filiados à CUT estarão em todas as atividades junto aos professores e estudantes para derrotar esse governo fascista", garantiu Douglas Izzo, presidente da CUT São Paulo.

"Alckmin está nos chamando de conservadores porque não aceitamos o fechamento das escolas. Mas ele é quem é conservador. Não basta dizer que vai fechar 94 escolas, pois não admitimos nenhuma escola fechada em São Paulo", discursou Maria Izabel Azevedo Noronha, a Bebel, presidenta da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial no Estado de São Paulo).

De acordo com o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Gilmar Mauro, o enfrentamento irá aumentar. "Temos obrigação de fechar rodovias estado afora porque a educação não é um caso da Apeoesp, é um problema do povo brasileiro. Não podemos admitir que fechem escolas no campo e na cidade. Queremos educação de qualidade e pública com valorização dos professores por todo o Brasil", afirmou.

O representante nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, ressaltou os planos da organização caso alguma escola seja fechada. "Já deixamos claro que as escolas que fecharem nas regiões das nossas ocupações, nós vamos ocupar e botar para funcionar. Essa é a resposta para quem corta dinheiro da educação", disse.

Secretária de Formação da CUT/SP, Telma Victor, lembrou também do impacto aos trabalhadores. “Os professores da categoria “O” e “F” que passaram na prova estão esperando para serem chamados. Mas, ao contrário, o fechamento de salas de aula irá cada vez mais demitir professores efetivos da rede ou contratados”, afirma a dirigente que é também educadora.

Para o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), Roberto Leão, a situação paulista é a mais grave das que já existiram nos últimos anos. “Em 1995 vimos algo parecido que causou desemprego, mudanças de alunos para longe de suas residências e a escola pública não melhorou. O que querem na verdade é fazer economia à custa da educação”, garante.

Solidariedade na luta

O professor de História e Sociologia, Fábio Sardinha, da Escola Estadual Oscar de Moura Lacerda, de Ribeirão Preto, disse que só não haverá fechamento de unidades de ensino na região onde atua por causa da pressão popular. “Nos organizamos junto com a comunidade e os alunos. Fomos ao Ministério Público, à imprensa local e fizemos uma verdade atividade cívica. Conseguimos uma grande conquista, mas sabemos que esta luta é a longo prazo”, resume.

As estudantes Ingrid Lerman, Guillia Figueiredo e Letícia Caroline, da Escola João Dias da Silveira, que fica no Tatuapé, não terão sua escola fechada, mas estiveram no ato para dizer que são contra este projeto.

Elas relataram também a realidade que vivem. “A superlotação é um dos problemas que vivemos e que afeta a todos. Nossos professores não conseguem dar aula para 50 alunos. O sistema de educação é difícil e a situação da escola é precária”, afirmou Guillia.

Dado de 2014 aponta que as 94 escolas estaduais que serão fechadas atendem 43.856 alunos. Nas 1.464 escolas estaduais que serão "reconfiguradas", serão 505.491 alunos afetados, segundo levantamento divulgado nesta quinta-feira (29), pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

Municipalização do ensino afetará vagas no ensino médio

Além de não discutir as mudanças com a comunidade escolar, Alckmin também não dialoga com os governos municipais e esconde o impacto real das mudanças, apontam os dados apurados pelo Dieese. Das 94 escolas estaduais que estão na lista, 36,2% serão municipalizadas.

Na capital, a transferência dos prédios escolares à prefeitura será tratada em reunião só na próxima semana, ainda sem data definida, entre representantes das secretarias Municipal e Estadual de Educação.

Para o técnico do Dieese, Rogério Limonti, "o pior disso tudo é que o ensino médio não é universalizado. A responsabilidade é exclusiva do governo estadual. Ou seja, se o município criar uma escola de ensino médio não receberá recursos pelo Fundeb [Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação] e demais recursos federais".

Rogério explica que hoje toda verba pública para a educação municipal é vinculada. Só pode ser aplicada em educação infantil e no ensino fundamental. Com o fechamento dessas escolas, faltará vaga para o ensino médio aos municípios afetados.

O levantamento do Dieese também mostra que do total de escolas fechadas, 40,2% são de ciclo único. Entre estas, nove são de Barueri, na Grande São Paulo, uma de Sertãozinho e uma de Roseira, no interior do estado.


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