12º CONCUT cobra fim da discriminação racial no mundo

O ódio e a intolerância permeiam discursos machistas, homofóbicos, racistas e xenófobos em todo o mundo. Esta tônica esteve presente nos relatos de representantes internacionais durante esta quarta-feira (14), na 12ª edição do Congresso Nacional da CUT (CONCUT), que conta com a participação de representantes de 72 países.

Referência internacional, o Haiti foi o primeiro país da América Latina a se tornar livre e a primeira nação negra independente, a partir da rebelião alçada contra a França, em 1804, conforme lembrou o secretário Geral da Confederação dos Trabalhadores no Setor Público e Privado (CTSP) do Haiti, Jean Bonald Golinsky.

“Nosso país contribuiu para a libertação dos povos no continente. Por isso, não deveria existir discriminação por lá, mas o exemplo dos países colonizadores ainda está presente”, afirma o dirigente, ao destacar os desafios que ainda precisam ser superados no Haiti, assim como em outros países.

Como parte desta luta, a Década Internacional dos Afrodescendentes, proclamada pela ONU, traz como proposta dar visibilidade ao tema e, ao mesmo tempo, promover o respeito entre todos os povos em busca dos direitos humanos e liberdades fundamentais aos afrodescendentes.

Ao fazer referência à década dos afrodescendentes, que começou em 1º de janeiro de 2015 e seguirá até 31 de dezembro de 2024, a secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT, Maria Julia Nogueira, fez um alerta para o extermínio da juventude negra do Brasil. “Os jovens negros têm sido exterminados nas periferias. Sabemos também que a discriminação se dá principalmente no mundo do trabalho onde as mulheres negras sofrem dupla discriminação, por serem mulheres e negras”, afirmou.

Do continente africano, a vice-presidenta da Confederação Sindical Internacional (CSI), Maria Fernanda Carvalho, também expressou indignação. No CONCUT, ela falou sobre o fim do apartheid e disse ser necessário acabar com este modelo de segregação, que muitas vezes ocorre de forma subjetiva. “Abaixo o racismo! Sou descendente de uma raça que foi discriminada, entretanto, jamais aceitarei ser discriminada”, alerta.

Superar o preconceito

As histórias de Jean e de Maria Fernanda se expressam de maneira semelhante também no Brasil. Além da discriminação racial, a xenofobia se converteu em agressões contra imigrantes haitianos em cidades como Rio Branco, Curitiba e São Paulo. Nas empresas, por precisarem do emprego, os imigrantes negros acabam suportando humilhações e situações de violência.

Para Jean, “o movimento sindical tem uma grande responsabilidade com relação a este tema, precisa assumir a luta contra a discriminação, que tem muitas formas, econômica, racial, contra determinadas religiões e contra os homossexuais”, diz, a exemplo de seu país de origem.

Estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgado em 2013, aponta que os negros recebem, em média, 63,89% dos salários dos não negros e se concentram em sua maioria no setor de serviços.

Presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, ressaltou que, apesar do Brasil ter sido o último país a abolir a escravidão, o movimento social e sindical permanecerá na luta para diminuir as desigualdades. “Sabemos que os salários e as condições entre negros e não negros não são iguais”, afirmou.

Para a representante do Centro de Referência Negra Lélia Gonzalez e vice-presidenta da CUT-GO, Iêda Leal, a unidade é o que garantirá a superação da discriminação e da intolerância que ocorrem num cenário mundial. “Para vencer o racismo, a falta de emprego, temos que estar juntos. A CUT tem apoiado e se aproximado cada vez mais do movimento social”, diz Iêda.

Secretária de Combate ao Racismo da CUT São Paulo, Rosana Aparecida da Silva, diz que o racismo é muitas vezes velado. “Lutamos pela aplicação das convenções 100 e 111 da OIT”, que tratam da igualdade de remuneração entre os gêneros para trabalho de igual valor e do combate às desigualdades em matéria de emprego e profissão.

Símbolos na luta

MC Soffia, rapper de 11 anos de idade MC Soffia, rapper de 11 anos de idade

Ao final da manhã desta quarta-feira (14), Vagner Freitas, a vice-presidenta da CUT, Carmem Foro, o presidente da CSI, João Felício e a vice-presidenta da CSI, Maria Fernanda, foram convidados para assinar o banner da década internacional de afrodescendentes, que ficará 10 anos na Secretaria de Combate ao Racismo da Central, na cidade de São Paulo.

O 12º CONCUT também contou com intervenções culturais, mística, capoeira e com a participação da MC Soffia, rapper de 11 anos de idade, que relatou ter sofrido racismo na escola e fez um apelo à plateia para que as escolas ensinem às crianças a história dos povos da África, a resistência negra no Brasil e no mundo.

fonte: CUT

foto: Dino Santos


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