Não fique de fora da programação do seminário internacional “Os diferentes modos de privatização da educação no mundo e as estratégias globais e locais de enfrentamento”, que ocorre entre 21 e 24 de setembro, no Hotel Braston, em São Paulo (SP). O evento é promovido pela Contee, em parceria com a Internacional de Educação e as entidades nacionais dos trabalhadores da educação brasileira – CNTE e Proifes-Federação.

Com objetivo de discutir as diferentes formas e conteúdo que caracterizam o processo de privatização da educação no mundo, seus diferentes aspectos e particularidades de cada país, o evento reúne pesquisadores internacionais e brasileiros como Celso Napolitano, professor do Departamento de Informática e Métodos Quantitativos da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em São Paulo, onde leciona as disciplinas Matemática Financeira, Matemática Aplicada e Negociação, noscursos de graduação e pós-graduação lato sensu.

Napolitano integrará a mesa das 14h às 18h, no dia 24 de setembro, e falará sobre seu estudo, encomendado pela Federação dos Professores do Estado de São Paulo (Fepesp), “Análise econômico financeira de empresas do setor de Educação”, que reúne indicadores e resultados financeiros de quatro grandes grupos educacionais que possuem capital aberto – Kroton, Anhanguera, Estácio, Anima e Ser – além das empresas particulares de capital fechado Mackenzie e Unicsul.

Os dados foram coletados num período de cinco anos, de 2010 a 2014, e visam entender o comportamento dessas instituições de ensino, no sentido de crescimento, receita, custo, remuneração, despesas, lucro operacional e frente ao valor investido.

Juntamente com informações financeiras publicadas, buscou-se dados comportamentais, relativos à quantidade de estudantes, crescimento das atividades, alunos presenciais e de ensino à distância, e seus resultados.

As companhias juntas (Kroton, Anima, Estácio e Ser) tiveram, em média, salto de 201% na receita líquida no período. Elas têm demonstrado um retorno econômico extraordinário para o país, acima da média das empresas de outros setores. Como contrapartida, observa-se que esses grandes grupos têm direcionado proporção cada vez menor de recursos aos professores: a remuneração dos docentes em relação à receita líquida passou de 45% em 2010 para 35% no ano passado, na média dessas empresas.

Outros participantes nacionais

A professor titular Madalena Guasco Peixoto, do Departamento de Fundamentos da Educação da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e presidente da Contee, é uma das especialistas brasileiras já conformadas para participar do evento. Sua intervenção terá como base a pesquisa realizada, entre 2008 e 2012, sobre o modelo de expansão da educação superior após a década de 1990, que propiciou a entrada do capital global na educação brasileira, inicialmente na educação superior e depois, mais atualmente, na educação básica.

Outra professora confirmada é Cristina Helena Almeida de Carvalho, professora do Departamento de Planejamento e Administração da Educação (PAD), da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB). Membro da Rede Universitas/BR e do Projeto Obeduc sobre Políticas da Expansão da Educação Superior no Brasil, Cristina de Carvalho procurará analisar o fenômeno recente de mercantilização da educação superior brasileira, principalmente a partir de 2007, no qual houve o crescimento das IES lucrativas e a adoção de estratégias de mercado na direção da financeirização, oligopolização e internacionalização.

Também está confirmada a participação de Dalila Andrade Oliveira, professora titular da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na área de Políticas Públicas e Educação. Sua presença será fundamental na discussão sobre os diferentes modos de privatização da educação no âmbito da gestão pública no Brasil, que têm suas origens no processo de reforma do Estado iniciado nos anos 1990. Será feito um resgate do processo indireto de privatização da educação que ao longo das últimas três décadas engendrou novas relações no setor educacional brasileiro.

Para falar sobre as políticas voltadas para a internacionalização das universidades públicas no Brasil, que ainda estão em fase de construção e/ou consolidação, principalmente se comparadas com a Europa e a América Anglo-Saxã, foi convidado o professor Fabio Betioli Contel, do Departamento de Geografia da FFLCH/USP.

Gil Vicente Reis de Figueiredo, especialista em Telecomunicações e Matemática, que acumula ainda uma larga experiência em pesquisa, falará, entre outros assuntos, sobre financiamento e o interesse internacional por repasses públicos para instituições.

O professor Lalo Watanabe Minto, da Faculdade de Educação da Unicamp, com atuação nas áreas de História da Educação e Políticas Educacionais, tratará sobre tendências que caracterizam o amplo processo contemporâneo de subordinação da educação à lógica do privado.

Outro tema que será pautado nas mesas é o desenvolvimento da regulação internacional sobre o comércio de serviços educacionais, em especial nos acordos preferenciais de comércio – em países como Austrália, Chile, China, Cingapura, Estados Unidos, Índia e União Europeia. O especialista convidado a palestrar sobre isso é Lucas da Silva Tasquetto, professor de Relações Internacionais da PUC-SP.

Luiz Fernandes Dourado, professor titular e emérito da UFG, com pós-doutorado em Paris/França na École des Hautes Étude en Siences Sociales (EHESS,2010), e membro da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, do Conselho Superior da Capes, mostrará como as políticas e gestão da educação superior têm sido objeto de várias análises que contribuem para a compreensão dos processos em que se inserem essas políticas por meio da adoção de marcos de avaliação e regulação complexas e, por vezes, contraditórios, fruto de orientações, compromissos e perspectivas – em escala local, nacional, regional e mundial.

Internacionais

Entre os palestrantes internacionais, estão especialistas com experiência em países como Austrália, Reino Unido, Canadá e Nova Zelândia. Como Angelo Gavrielatos, diretor do Projeto de Resposta Mundial contra a Privatização e a Mercantilização da Educação da Internacional da Educação (IE), e ex-presidente do sindicato dos educadores australianos Australian Education Union (AEU). Gavrielatos vai expor, no primeiro dia do seminário, o contexto atual de privatização e mercantilização da educação em nível global e a necessidade de articular uma estratégia mundial de enfrentamento.

Já o pesquisador Antonio Olmedo, da Universidade de Roehampton, no Reino Unido, e especialista em políticas educativas, redes e grupos de pressão neoliberais, analisará a tendência cada vez maior das corporações, empresários e especialmente de organizações filantrópicas (filantrocapitalismo) de influir na agenda política educativa, bem como suas estratégias, discursos, influências ideológicas e as redes que estabelecem entre si. Sua participação será no terceiro dia do evento.

Para falar sobre as provas Pisa (Programme for International Student Assessment – Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), vem da Austrália Sam Sellar, pesquisador de pós-doutorado da Universidade de Queensland. Sellar, que é especialista em políticas educativas globais, com enfoque na indústria das provas padronizadas e governança educativa em nível mundial, analisará como os novos atores aprovados influenciam em políticas públicas educativas em nível global. Para tanto, analisará o caso das provas Pisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Econômico (OCDE) e o papel da corporação educativa Pearson. A apresentação terminará com uma discussão sobre as novas provas Pisa para o desenvolvimento e como estas podem abrir oportunidades de negócio para as corporações educativas na América Latina.

Outra convidada internacional é a escritora e pesquisadora Susan Robertson, especialista em economia política educativa, desde o nível global até o regional, local e individual. Robertson, que já atuou em países como Canadá, Nova Zelândia e Austrália, falará sobre as instituições financeiras internacionais e sua influência nas políticas educativas em nível global, incluindo um olhar mais aproximado sobre a situação na América Latina. Como ponto de partida, analisará o documento A Estratégia Educativa 2020, do Banco Mundial.

Fonte; CONTEE


Mais Lidas