13 e 15 de março: os dois lados da trincheira

Escrito por: Julio Turra - Representante do SINPRO ABC na CUT - Diretor Executivo da CUT Nacional
Em 13 de março, a partir da acertada iniciativa da CUT e com o apoio decisivo de movimentos populares nossos parceiros (como o MST, MAB, Levante, CMP e tantos outros), além da UNE e CTB, cerca de 200 mil trabalhadores da cidade e do campo, jovens combativos e militantes de esquerda, saíram às ruas de norte a sul do Brasil.
Em São Paulo, debaixo de uma chuva torrencial, ocorreu a maior manifestação com dezenas de milhares de participantes que, como em outros pontos do país, levantavam claramente suas propostas e reivindicações com base no “tripé”: defesa dos direitos dos trabalhadores (abaixo as MPS 664 e 665, não ao PL 4330), defesa da democracia (corrupção se combate com reforma política e essa se faz com Constituinte, como diziam as resoluções da Executiva e Direção nacional da CUT) e em defesa da Petrobras, patrimônio do povo ameaçada de privatização e da perda do controle do Pré-sal na esteira da Operação Lava Jato.
O 13 de março, com a CUT à cabeça, forneceu um ponto de apoio para a resistência popular à ofensiva da grande mídia, da direita e da oposição golpista, que vinham há meses preparando e convocando os atos de 15 de março! Ponto de apoio essencial para enfrentar a situação de aguda crise que atravessa o país, apenas quatro meses depois da vitória eleitoral de Dilma no polarizado 2º turno das eleições presidenciais de 2014.
Superamos todos os obstáculos
Não faltaram obstáculos a serem superados para o êxito do 13 de março. Desde pressões para não reagir à ofensiva da direita, passando pela manipulação dos jornalões para descaracterizar a nossa pauta, até setores que se dizem de esquerda e se negaram a participar dos atos, tachando nossa mobilização de “governista” para justificar sua linha de “nem 13, nem 15”. E isso quando nossa pauta destacava o combate às medidas de ajuste fiscal pilotadas pelo ministro Levy que atacam direitos trabalhistas!  
Todos esses obstáculos foram superados pela garra e mobilização daqueles que garantiram a derrota de Aécio no 2º turno de 2014 e que, portanto, são os que têm mais autoridade para cobrar do governo Dilma suas reivindicações e a mudança da política econômica que empurra o país para a recessão!
O  15 de março e a manipulação golpista
Já o dia 15, que reuniu num domingo centenas de milhares (e não “milhões”, como pretendeu a PM de Alckmin ao inflar o ato de São Paulo em 1 milhão) em todo o país, foi convocado por empresários, partidos de oposição (PSDB, PPS, Solidariedade, PSB-SP e outros) que não ousaram dar a cara nas ruas, preferindo manipular um descontentamento real que existe na sociedade (e não só na elite), em particular de repúdio à corrupção, para canalizar tudo no “Fora PT e Fora Dilma”.

Senão vejamos o caso de São Paulo (que a Datafolha deu 210 mil manifestantes, o que tampouco deve ser subestimado): a Assembleia Legislativa mudou o horário de posse dos deputados para que caravanas do interior viessem à Paulista; horário de jogo de futebol foi mudado, a Globo fazia propaganda diária do 15, catracas do Metrô foram liberadas, setores conservadores de igrejas católica e evangélicas se juntaram à maçonaria e patrões que tentavam obrigar seus funcionários a participar, até mesmo dispensando turnos de domingo. Enfim, tudo foi feito para engrossar o ato.
Essa ampla frente, onde não faltaram cartazes em inglês e bandeiras dos EUA, é similar ao que a burguesia pró-imperialista faz hoje nas vizinhas Venezuela e Argentina, disseminando seu ódio de classe às organizações dos trabalhadores e do povo pobre!
E a reação do governo?
Numa situação em que o governo Dilma estava acuado, o PT (partido da presidente) paralisado e com sua bancada isolada no Congresso nacional (onde “aliados” como Renan e Cunha do PMDB, envolvidos na Lava Jato, querem livrar sua cara jogando a responsabilidade pela corrupção para o Executivo federal), todos e todas que garantiram os atos de 13 de março esperavam uma sinalização positiva à sua pauta.
Infelizmente, o governo não veio a público nem no dia 13 nem no 14. Esperou os atos do dia 15 para enviar os ministros à TV para promover o “diálogo” com os manifestantes. Coisas importantes foram ditas – como o fim do financiamento empresarial de campanhas e que Gilmar Mendes deveria liberar o seu voto no STF sobre o tema – mas no essencial, o Plano Levy de ajuste fiscal, o que se ouviu é que vai continuar!  
Isso numa situação em que o Plano Levy está paralisando a economia do país, junto com os efeitos da Lava Jato na Petrobras: parando as obras do PAC, os ministérios, as Universidades públicas, o FIES, o lançamento da 3ª fase do Minha Casa Minha Vida, forçando Estados e Municípios a também fazerem cortes e mais cortes nos gastos públicos! .
É isso que decepciona os trabalhadores e a juventude e joga na confusão setores populares que os reacionários golpistas tentam manipular. É essa política que tem que mudar!
O que os atos de 13 de março deixaram evidente é que o governo federal tem que voltar à pauta do 2º turno das eleições presidenciais, pois a única saída positiva para a atual crise é reatar com a sua base social.
A reforma política, com o fim do financiamento empresarial de campanhas, tem que ser tocada através da Constituinte, pois como dizíamos na campanha do Plebiscito Popular, “com esse Congresso não dá!”, e não pode o governo se prender no respeito às  instituições que estão desmoralizadas (Congresso e também Judiciário).
A última pesquisa Datafolha (18/3), que registra queda de popularidade de Dilma, registra que a do Congresso é ainda maior!

O governo tem que avançar na reforma agrária, na reforma urbana e defender os investimentos da Petrobras no Pré-sal.
Para barrar a ofensiva golpista de direita, o governo tem que se voltar para as reformas populares que mobilizam a sua base social e permitem recuperar a confiança de setores populares manipulados por seus próprios inimigos (a direita reacionária).
Todos os prazos se encurtaram.
Intensificar uma jornada de luta!
Em 7 de abril está marcada a votação do PL 4330 na forma de um substitutivo que mantém a “terceirização ilimitada”. A CUT estará em Brasília nesta data para impedir esse ataque maior aos nossos direitos.
Neste 19 de março, a CUT se reúne com as entidades e movimentos, que conosco garantiram o sucesso dos atos do dia 13, para discutir a continuidade da luta, com a certeza de que não podemos abandonar as ruas para a direita e de que é preciso forjar um calendário de atos unitários de massa até o próximo 1º de Maio, pelas reivindicações, pelas reformas populares, pela Constituinte para a reforma política e em defesa do mandato popular dado a Dilma no 2º turno – na forma, pois é um mandato legítimo, e no conteúdo que lhe deu a maioria do povo brasileiro: barrar o retrocesso!
É hora de mudar a política econômica!


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