No mês da Consciência Negra, professor e sócio do SINPRO ABC, Juarez Donizete Ambires, aborda as relações entre a  África e o Brasil
Por Juarez D. Ambires*
A África é a principal das matrizes formadoras do Brasil. O fato, entretanto, causa ainda estranhamento a muitos. A escravidão é a associação direta que, aqui, se faz ao continente, e, entre nós, a figura do escravo não gozou de prestígio. A ela, em verdade, vincula-se de imediato o repertório da incivilidade que, em larga escala, justificou o tráfico. Por isso, para alguns grupos o negro foi e é a inferioridade e este conceito se estende à geografia de onde ele vem.
Complicando a situação, os noticiários de nossa atualidade apresentam a África como o espaço das catástrofes. O continente se tornou em nosso imaginário sinônimo de guerras fratricidas, miséria, corrupção, AIDS. Para alguns, devido ao fato, a África passou a ser o espaço da insolvência. Em vários casos, as ações de governos ilegítimos e ditatoriais colaboram fortemente para a crença. Em meio ao caótico, o que fazer é a pergunta que fica.
Este quadro, todavia, é visão tendenciosa e parcial de uma realidade. A África não se faz representar apenas pelo negativo. Não se pode negar que seja imenso o potencial de desenvolvimento de vários de seus países. A geografia também positivamente se apresenta como o espaço das boas e necessárias conciliações. Nela, o moderno ocidental e as culturas tradicionais em várias situações buscam diálogo, se conjugam.
Neste sentido, mais uma vez o Brasil tem muito a aprender com a África. O presente brasileiro está marcado pelo modo de ser africano e o nosso futuro não tem por que se envergonhar deste parentesco. Com Gilberto Freyre aprendemos que a África é alta civilidade. É terra de cultura e requinte. Em sua interpretação, mesmo o legado português ficaria, entre nós, aquém da herança ou das heranças africanas. Os motivos deste louvor seriam diversos.
Deste modo, convém que reavaliemos posturas, e a escola pode ajudar e muito nesta retomada. O momento se faz propício. As leis 10.639 e 11.465 incentivam novos olhares. Para tanto, contudo, há necessidade de séria capacitação do quadro de professores. O trabalho não deve envolver apenas as áreas de Arte, História e Literatura. Na redescoberta da África, há espaço para todas as disciplinas. Os legados do continente atingem todos os conteúdos.
A África entre nós é a mãe desconhecida. Um longo processo histórico a negou. Os séculos da escravidão moderna compõem muito do repertório desta negação. Em paralelo, a situação adversa que ainda encerra negros e mestiços brasileiros continua também a confirmar a negação. Por meio da escola e de outras políticas públicas sérias, contudo, é possível reverter este quadro. Conhecendo a África indiscutivelmente seremos mais brasileiros.
*Juarez D. Ambires, Professor de Língua e Literatura Portuguesas no Centro Universitário Fundação Santo André; em seu pós-doutorado, ocupa-se da Literatura de Cabo Verde e alguns de seus significados; Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
Para ler mais artigos do colaborador Juarez Ambires, acesse nossa revista online www.revistaoprofessor.com.br.
No mês da Consciência Negra, professor e sócio do SINPRO ABC, Juarez Donizete Ambires, aborda as relações entre a  África e o Brasil

Por Juarez D. Ambires*

A África é a principal das matrizes formadoras do Brasil. O fato, entretanto, causa ainda estranhamento a muitos. A escravidão é a associação direta que, aqui, se faz ao continente, e, entre nós, a figura do escravo não gozou de prestígio. A ela, em verdade, vincula-se de imediato o repertório da incivilidade que, em larga escala, justificou o tráfico. Por isso, para alguns grupos o negro foi e é a inferioridade e este conceito se estende à geografia de onde ele vem.

Complicando a situação, os noticiários de nossa atualidade apresentam a África como o espaço das catástrofes. O continente se tornou em nosso imaginário sinônimo de guerras fratricidas, miséria, corrupção, AIDS. Para alguns, devido ao fato, a África passou a ser o espaço da insolvência. Em vários casos, as ações de governos ilegítimos e ditatoriais colaboram fortemente para a crença. Em meio ao caótico, o que fazer é a pergunta que fica.

Este quadro, todavia, é visão tendenciosa e parcial de uma realidade. A África não se faz representar apenas pelo negativo. Não se pode negar que seja imenso o potencial de desenvolvimento de vários de seus países. A geografia também positivamente se apresenta como o espaço das boas e necessárias conciliações. Nela, o moderno ocidental e as culturas tradicionais em várias situações buscam diálogo, se conjugam.

Neste sentido, mais uma vez o Brasil tem muito a aprender com a África. O presente brasileiro está marcado pelo modo de ser africano e o nosso futuro não tem por que se envergonhar deste parentesco.

Com Gilberto Freyre aprendemos que a África é alta civilidade. É terra de cultura e requinte. Em sua interpretação, mesmo o legado português ficaria, entre nós, aquém da herança ou das heranças africanas. Os motivos deste louvor seriam diversos.

Deste modo, convém que reavaliemos posturas, e a escola pode ajudar e muito nesta retomada. O momento se faz propício. As leis 10.639 e 11.465 incentivam novos olhares. Para tanto, contudo, há necessidade de séria capacitação do quadro de professores. O trabalho não deve envolver apenas as áreas de Arte, História e Literatura. Na redescoberta da África, há espaço para todas as disciplinas. Os legados do continente atingem todos os conteúdos.

A África entre nós é a mãe desconhecida. Um longo processo histórico a negou. Os séculos da escravidão moderna compõem muito do repertório desta negação. Em paralelo, a situação adversa que ainda encerra negros e mestiços brasileiros continua também a confirmar a negação. Por meio da escola e de outras políticas públicas sérias, contudo, é possível reverter este quadro. Conhecendo a África indiscutivelmente seremos mais brasileiros.

*Juarez D. Ambires, Professor de Língua e Literatura Portuguesas no Centro Universitário Fundação Santo André; em seu pós-doutorado, ocupa-se da Literatura de Cabo Verde e alguns de seus significados; Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..
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